Numa tarde qualquer, entre as muitas que se esvaem no cotidiano, descobri algo que alteraria para sempre minha relação com o ato de escrever. Estou falando, é claro, da caneta em gel. Não, não é uma caneta com gel para cabelo, embora imagine que alguém, em algum lugar, já tenha tentado isso. E também não é comestível, apesar do nome lembrar aqueles docinhos de festa infantil.
A caneta em gel é uma dessas invenções japonesas que nos fazem pensar: “Por que eu não pensei nisso antes?”. Iniciada pela empresa Sakura, essa caneta nasceu da ambição de melhorar as já conhecidas rollerballs. E, como em muitas histórias de invenção, houve experimentos peculiares, incluindo, acredite se quiser, tentativas com clara de ovo e inhame ralado. A solução, no entanto, veio de um ingrediente menos exótico, porém igualmente surpreendente: o goma xantana, mais conhecido por sua aplicação em sopas e geleias.
A caneta em gel, com sua tinta opaca e cores vibrantes, logo se tornou um sucesso. Oferecia uma experiência de escrita suave, quase terapêutica, e uma paleta de cores que faria um arco-íris parecer desbotado. Desde o modelo pioneiro, o Ballsign 280, até o famoso Gelly Roll, essas canetas se tornaram mais do que um instrumento de escrita; eram uma declaração de estilo.
E aqui, meus caros, reside a ironia. Em uma era dominada pelo teclado e pela tela, a caneta em gel trouxe de volta o charme da escrita manual. Convenhamos, não há emoji que substitua a sensação de deslizar uma caneta gel sobre o papel, vendo as palavras emergirem em cores brilhantes ou metálicas. É quase um ato de rebeldia contra a ditadura dos teclados.
Mas, como toda boa história, há um porém. O custo ecológico: uma caneta em gel dura bem menos que uma esferográfica comum. E, num mundo já abarrotado de descartáveis, isso é um problema. Por outro lado, sua tinta à base de água é menos tóxica, e as cores não desbotam com o tempo — algo que os artistas e os assinantes de cheques apreciam igualmente.
Então, enquanto rabisco estas linhas com minha caneta em gel roxa cintilante, penso nos paradoxos da inovação. A caneta em gel não é apenas um instrumento de escrita; é um microcosmo das contradições humanas: criatividade e excentricidade, inovação e desperdício, beleza e prática.
E pensar que tudo começou com a busca por uma tinta mais espessa. Ah, as coisas simples que nos levam a descobertas extraordinárias! Talvez, em algum lugar, alguém esteja tentando escrever com gel para cabelo. Quem sabe? No mundo das invenções, tudo é possível.