All input is Evil?

Juliana
2 min readJan 25, 2024

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Enxugando o rosto com as costas da mão num ato quase reflexo, senti o calor do verão carioca me envolver como um manto. Era uma daquelas tardes em que o sol parecia disputar espaço com cada sombra, deixando o ar carregado e preguiçoso. Sentada na varanda, com os pensamentos tão abafados quanto o clima, me vi perdida em reflexões impulsionadas por uma frase que li sobre tecnologia: “All Input is Evil”.. Toda entrada é um potencial risco. Achei fascinante como esse conceito técnico poderia se entrelaçar tão intimamente com as sutilezas das relações humanas.

A vida, pensei, não é muito diferente de um complexo sistema informático, onde cada nova informação, cada novo encontro, cada palavra ouvida ou dita pode ser um vetor de mudança, ou de desordem. E ali, balançando suavemente na minha cadeira de vime, comecei a ponderar sobre a cautela com que processamos cada novo input em nossa vida.

Lembrei-me de um episódio peculiar. Uma amiga, com seu jeito descompromissado, sugeriu-me mudar completamente o visual. “Por que não um corte de cabelo ousado?” Disse ela com um entusiasmo que parecia iluminar o ambiente. Confesso que minha reação imediata foi de hesitação, quase como se um antivírus interno disparasse um alerta: “Cuidado! Mudança iminente!”.

Mas, afinal, não é isso que fazemos o tempo todo? Em um mundo cada vez mais interconectado, somos bombardeados por opiniões, informações, conselhos. E, assim como um programador cauteloso, filtramos, analisamos, bloqueamos ou aceitamos esses inputs com um zelo quase obsessivo. Proteção ou resistência ao novo?

Refletindo mais a fundo, percebo como isso se manifesta nas várias esferas da vida. No amor, por exemplo, quantas barreiras erguemos após um coração partido? E na amizade, quanto nos retraímos, temendo julgamentos ou mal-entendidos?

Esse princípio de cautela tecnológica, percebo agora, ecoa na nossa essência humana. Estamos sempre a postos, defendendo-nos de potenciais ameaças, reais ou imaginárias. Mas, ao nos protegermos tanto, será que não estamos também nos privando de experiências que poderiam ser, quem sabe, transformadoras?

Ao finalizar estas linhas no meu velho caderno de anotações, com a Pentel Clena ainda entre os dedos, olho para o horizonte onde o sol, agora menos intenso, começa a se pôr, espalhando tons de laranja e rosa pelo céu. Penso nas infinitas possibilidades que se desdobram para além das nossas defesas, dos nossos medos. E sorrio, acalentada pela ideia de que, talvez, o verdadeiro desafio seja saber quando baixar a guarda, quando se permitir ser vulnerável em um mundo que nos ensina, a todo instante, a estar sempre em alerta.

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Written by Juliana

Crônicas sobre papel, caneta e arte.

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