Aventuras e desventuras de uma canhota.

Juliana
2 min readFeb 25, 2024

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Naquela manhã ensolarada de segunda-feira, eu, uma legítima representante da minoria esquecida — os canhotos –, decidi enfrentar o mundo dominado pelos destros com a coragem de quem decide cortar uma cebola com a mão esquerda: uma tarefa heroica, porém repleta de lágrimas.

O primeiro desafio do dia veio com o simples ato de tomar café. A caneca com a inscrição “Melhor Amiga do Mundo” só fazia sentido para quem segurasse com a mão direita. Ao usá-la com a esquerda, a mensagem se voltava para mim, como se eu precisasse de autoafirmação logo cedo.

Chegando ao trabalho, o teclado do computador com o número pad do lado direito já anunciava a próxima batalha. Digitava números com a velocidade de uma tartaruga manca, enquanto meus colegas destros pareciam pianistas em uma sinfonia de Chopin.

Mas o verdadeiro campo de batalha estava por vir: a reunião com o novo kit de canetas brilhantes que a empresa havia distribuído. “Uma para cada!” — exclamou o chefe, com um entusiasmo digno de um anúncio de cereal matinal. Claro, a tinta dessas maravilhas da escrita foi feita especialmente para adornar a lateral da minha mão esquerda, enquanto eu tentava escrever. Até o final do dia, parecia que tinha saído de uma luta livre com um polvo.

E ainda vem com a cara mais lavada do mundo me perguntar por que minha fidelidade eterna a Pentel Energel, como se a velocidade supersônica de secagem fosse um detalhezinho à toa, e não a única coisa que impede minha mão de virar uma obra de arte abstrata a cada linha que escrevo!

E então, a academia. Ah, a academia! Esse santuário de máquinas e equipamentos que parecem ter sido projetados durante uma convenção de destros. Mas, como em todas as outras esferas da minha vida, encontrei meu caminho. Adaptando-me, invertendo posições, e às vezes, simplesmente fazendo do meu jeito, mesmo que isso significasse parecer estar realizando um novo tipo de arte marcial desconhecido.

Ao final do dia, refletindo sobre minhas aventuras e desventuras, não pude deixar de sorrir. Ser canhota em um mundo de destros é, de fato, um desafio diário. Mas é também uma fonte inesgotável de histórias engraçadas e momentos únicos que só quem vive sabe. E, no fim das contas, é isso que torna a vida interessante, não é mesmo? Afinal, o que seria do mundo sem um pouco de assimetria para nos fazer rir das pequenas grandes batalhas cotidianas?

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Written by Juliana

Crônicas sobre papel, caneta e arte.

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