Num desses dias sem marca no calendário, que tanto pode ser hoje como ontem ou até mesmo amanhã, me vi sentada à velha mesa de madeira que veio parar comigo por herança do meu avô. Essa mesa, testemunha silenciosa de tantas histórias já esquecidas pelo tempo, parecia querer confidenciar-me os segredos de uma escrita que se possa chamar de boa.
Com a caneta em punho e diante de mim um papel em branco, entreguei-me aos pensamentos sobre essa arte de tecer palavras. A escrita é quase uma conversa entre almas, pensei. Não é só o alinhar de palavras numa folha, mas sim o modo como essas palavras alcançam e afetam quem as lê. Uma escrita verdadeiramente boa tem o dom de provocar riso, lágrimas, revolta ou amor. Mas como se alcança tal proeza?
Refleti então sobre essa ideia a intersecção de caneta, papel, pessoas e propósito. Parecia haver aí um mapa do tesouro. A caneta, nosso compromisso com a imortalização do pensamento; o papel, o universo de possibilidades; as pessoas, um mar de complexidades e singularidades; e o propósito, a alma que anima cada letra desenhada.
Quando me debrucei sobre a caneta e o papel, vi que, embora simples, são os condutores dos sonhos do espírito para o tangível. A escolha deles diz muito do escritor — há quem se entregue à fluidez da tinta da caneta em gel, que desliza pelo papel como um bailarino no palco, enquanto outros se apegam ao lápis, pelo perdão que oferece ao erro, um lembrete de que a perfeição é uma jornada, não um destino.
As pessoas, essas são o coração pulsante da escrita. Cada personagem é um fragmento do seu criador, mas também deve ganhar vida própria, convencer o leitor de sua existência fora das páginas. Dar vida a personagens, tornando-os tão reais na imaginação do leitor quanto na do escritor, é um dos maiores truques na manga de um escritor.
E por fim, o propósito. Escrever por escrever é um bálsamo, mas a escrita só atinge sua plenitude quando tem um objetivo. Contar uma história, transmitir uma mensagem, compartilhar um momento — o propósito é o norte que guia a caneta, dá forma à narrativa.
Pensando sobre tudo isso, cheguei à conclusão de que uma boa escrita é aquela que estabelece uma ponte entre o escritor e o leitor, onde as palavras são os pilares e a compreensão, o alicerce. Não importa quão simples ou complexa seja a trama, se ela tocar o coração de quem lê, então cumpriu seu maior propósito.
Ao guardar a caneta e fechar o caderno, um sorriso me escapou, grata pela silenciosa companhia da mesa do meu avô. Afinal, a boa escrita é como um encontro entre velhos amigos: confortável, verdadeira e, mais do que tudo, inesquecível.