Minha inspiração? O vento levou.

Juliana
2 min readFeb 7, 2024

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Num belo dia ensolarado, decidi me aventurar pela orla de Salvador, buscando apenas a companhia do mar e do céu sem fim. Na minha doleira, um kit de sobrevivência moderno: RG, algumas moedas, cartão de crédito e a carteira do plano de saúde. Nada que pesasse, apenas o essencial para uma caminhada despreocupada.

Foi então, entre o balançar das palmeiras e o riso das ondas, que me atingiu: uma ideia tão brilhante e fugaz que quase podia vê-la dançando na brisa marinha. Sem meu caderno de anotações, um tesouro particular repleto de ideias, senti-me desarmada diante daquela inspiração inesperada.

Na tentativa de capturar a ideia antes que ela evaporasse como água ao sol, recorri à repetição. Murmurei a ideia em voz alta, tentando transformar o som em memória. Mas só consegui atrair olhares curiosos dos passantes, que provavelmente me confundiram com uma turista excessivamente entusiasmada ou uma nativa conversando com o invisível.

Desespero me levou até um quiosque, onde, entre súplicas, consegui um guardanapo e uma caneta emprestada. Mas, oh ironia do destino, uma rajada de vento decidiu participar da cena, levando o guardanapo em um voo livre e despreocupado, enquanto eu, menos graciosa, corria atrás dele como quem persegue sonhos ao vento.

Quando finalmente consegui resgatar meu guardanapo, já meio amassado, pisoteado, inutilizável. Tentei usar o braço como caderno. Mas as palavras se recusavam a se fixar na minha pele, escorregando como se estivessem em uma superfície de gelo, deixando apenas rastros borrados e sem sentido.

A essa altura, a ideia original já tinha se diluído, deixando para trás apenas a lembrança de sua existência efêmera. Mas, ao invés de me lamentar, não pude deixar de rir da situação. Salvador, com seu calor e sua brisa travessa, havia me dado uma história para contar, mesmo que a ideia original tenha se perdido pelo caminho.

E assim, o que restou foi esta crônica: um relato não da ideia que fugiu, mas da aventura de tentar capturá-la. Afinal, algumas das melhores histórias vêm não do que planejamos escrever, mas do inesperado, dos percalços e das pequenas comédias da vida. E talvez, no fim das contas, seja isso que torna cada narrativa, cada passeio pela orla, verdadeiramente memorável.

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Written by Juliana

Crônicas sobre papel, caneta e arte.

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