Ode à Lista de Tarefas no Papel

Juliana
2 min readMar 3, 2024

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"A caneta desliza, arranhando o papel. Um risco. Seco. Firme. Atravessa a tarefa como quem corta o aço ao meio. Tem gosto de vitória, de conquista. O som do riscar é música para os ouvidos, sinfonia de feito, de dever cumprido. Aquele gesto simples, tão pequeno, carrega o peso do mundo. É a prova física, tátil, que algo foi vencido, superado. A satisfação é imediata, visceral.

Nenhum clique, nenhum toque em tela plana, fria, pode se comparar. Tecnologia alguma conseguiu imitar essa sensação. A tela é lisa, indiferente, sem vida. Falta-lhe textura, falta-lhe calor. Falta-lhe a humanidade do papel, que absorve tanto a tinta quanto as nossas lutas. O papel é paciente, espera, acolhe cada letra, cada marca, testemunha silenciosa dos nossos esforços diários.

E ao final do dia, quando olhamos para trás, para a lista de tarefas, cada linha riscada é um troféu, uma história de batalha. É tangível, é real. Pode-se tocar a vitória com as pontas dos dedos, sentir a rugosidade do papel, a irregularidade da tinta. A tecnologia, com toda a sua precisão fria, nunca capturou essa essência, essa magia. Falta-lhe an alma do riscado, a poesia do feito à mão.

Assim seguimos, apegados aos nossos pedaços de papel, aos nossos rituais simples, mas significativos. Encontramos alegria nas pequenas coisas, nos pequenos atos de marcar e riscar. E, no fundo, sabemos que essa conexão, essa satisfação pequena, mas profundamente humana, é algo que não queremos perder. Não para a frieza de um mundo cada vez mais digital, mais distante do toque, da textura, da verdadeira sensação de estar vivo e de fazer, concretamente, parte do mundo."

Esse texto não é meu. Foi originalmente publicado pela Duck Paper no seu perfil do instagram. Bom demais para ser esquecido em uma rede de vídeos e fotos. Republicado com autorização.

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Written by Juliana

Crônicas sobre papel, caneta e arte.

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