Tempo Rei: Reflexões sobre Burnout e a Vida

Juliana
2 min readJan 28, 2024

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Naquele dia, enquanto observava a xícara de café tremer em minha mão, percebi que algo estava errado. O ritmo acelerado do meu coração parecia querer competir com os ponteiros do relógio na parede, e cada tic-tac ressoava como um grito em minha mente exausta. Sentado na pequena mesa da cozinha, eu me perguntava como as coisas haviam chegado àquele ponto.

Durante meses, eu havia me dedicado incansavelmente ao trabalho, ignorando os sinais que meu corpo e mente tentavam me enviar. As noites mal dormidas transformaram-se em companheiras fiéis, e o peso das responsabilidades parecia cada vez mais insustentável. A crise de ansiedade que agora me assolava era apenas o ápice de um longo processo de esgotamento — o famigerado burnout.

Relembrando os últimos tempos, percebi que minha vida se tornara uma sequência de prazos e metas, um eterno correr contra o tempo, numa tentativa desesperada de provar meu valor. Mas, a que custo? O trabalho havia consumido não apenas meu tempo, mas também minha essência, meus momentos de lazer e, principalmente, minha paz.

A xícara de café, ainda tremendo em minha mão, parecia me questionar: até quando? Foi então que compreendi a ironia da situação. Em minha busca frenética por produtividade e reconhecimento, eu havia negligenciado o bem mais precioso que possuímos: o tempo.

O tempo, esse bem irrecuperável, não deveria ser medido apenas em horas trabalhadas ou tarefas cumpridas. Ele é o tecido de nossas vidas, entrelaçado com momentos de alegria, descanso, amor e autoconhecimento. Percebi que não se trata de quantificar o tempo, mas de qualificá-lo, de dar-lhe sentido e valor.

Naquela manhã, decidi que era hora de desacelerar. Afinal, como escreveu certa vez o poeta Quintana, “a vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa”. E que casa é essa, senão a nossa própria vida, onde cada segundo deve ser vivido com plenitude, não como escravos do relógio, mas como senhores do nosso tempo?

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Written by Juliana

Crônicas sobre papel, caneta e arte.

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