Ontem, eu abri a gaveta e peguei minha caneta de nanquim com um sorriso nostálgico. A luz do sol se infiltrava pela janela, iluminando o pequeno estúdio onde passo horas desenhando.
A caneta, um modelo antigo que herdei do meu avô, tinha mais histórias para contar do que muitos livros na minha estante.
Ah, a caneta de nanquim! Aquela relíquia familiar era um símbolo de uma era quase esquecida, onde a arte exigia paciência e precisão. Meu avô contava como, na China Antiga, os primeiros pincéis finos mergulhavam em tinta densa para criar obras que desafiavam o tempo.
Eu imaginava os artistas de outrora, em suas longas vestes, curvados sobre papéis de arroz, absorvidos em cada pincelada. Lembrava das histórias de como a caneta evoluíra — do simples pincel ao reservatório de tinta inovador de Lewis Waterman. “Invenções surgem da necessidade”, dizia meu avô, um homem de poucas palavras, mas de muita sabedoria.
Cada traço que faço é um tributo àqueles que, antes de mim, haviam mergulhado suas canetas nas profundezas da criatividade humana. A caneta de nanquim é uma ponte para o passado. Com ela, sentia-me conectada aos meu vô e aos artistas que, ao longo dos séculos, transformaram folhas em branco em histórias visuais. Lembrava-me de como meu ele desenhava, as mãos firmes apesar da idade, criando linhas que dançavam entre o tradicional e o moderno.
Para mim, a arte não é sobre rapidez ou eficiência; é sobre a jornada. Cada desenho começa com uma linha simples, crescendo em complexidade e beleza.
A caneta de nanquim é exigente — não tolera pressa nem descuido.
Mas, em minhas mãos, é como uma extensão do meu próprio ser, um meio de expressar não só a visão artística, mas também emoções e pensamentos mais íntimos.
Em um mundo cada vez mais digital, onde a pressa é valorizada, eu encontro refúgio na lentidão e precisão que minha caneta de nanquim exige. É uma rebelião silenciosa contra a efemeridade da era moderna, um lembrete de que algumas coisas, como a arte, precisam de tempo para florescer.
E assim, com cada traço, eu não apenas desenho. Eu conto histórias, preservo memórias e, acima de tudo, mantenho viva uma tradição milenar, lembrando a todos que, às vezes, o antigo e o simples podem ser surpreendentemente poderosos.
A caneta de nanquim, para mim, é mais do que tinta e papel; é um elo eterno com minha ancestralidade, com a arte e com a história.